Cíntia Xavier
Enquanto empresas consolidadas se recusam a realizar debates em momentos eleitorais, com quase nada de recursos, iniciativas simples garantem que a exposição de ideias e planos de governo se realize. Foi o que ocorreu no dia 28 de agosto em Ponta Grossa, quando estiveram lado a lado (quase) todos os candidatos a prefeitura de Ponta Grossa, no Grande Auditório da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
O debate entre as candidaturas a prefeito de Ponta Grossa, idealizado e realizado pelo projeto de extensão Combate a Desinformação dos Campos Gerais, ligado ao curso de Jornalismo e ao programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UEPG, foi transmitido pelo canal do YouTube da Agência de Jornalismo e retransmitido pelas principais mídias da cidade. O evento faz parte da campanha “PG Contra Desinformação nas Eleições 2024”.
A transmissão do debate ocorreu a partir de outro projeto de extensão do curso de Jornalismo o Núcleo de Produção Audiovisual (NPA). O NPA foi responsável por oferecer as condições de transmissão do evento. Para isso a realização da tarefa reuniu um grupo de professores, técnicos e estudantes e utilizou de equipamentos modestos em uso no curso de jornalismo da UEPG. Vale a pena listar os equipamentos utilizados: um PC com sete anos de uso (que faz as vezes de uma mesa de corte, a partir de um software; duas câmeras filmadoras com mais de 15 anos de uso; uma mesa de som – essa adquirida recentemente pela administração; um microfone de lapela, sem fio adaptado; duas placas de captura (compradas pelos próprios professores); e conexão pela internet cabeada.
Ao longo da transmissão no canal da Agência de Jornalismo no YouTube pouco mais de 1100 aparelhos estiveram conectados ao vivo. Em pouco mais de 13 horas após a transmissão o vídeo já tinha 12 mil visualizações. Junto a iniciativa de retransmissão dos outros veículos de comunicação da cidade (Blog da Mareli; BNT; Portal Arede; Portal DCMais; Portal de D’PontaNews) as propostas das candidaturas puderam e poderão chegar a um número expressivo de pessoas.
Naturalmente que a TV aberta é o canhão de audiência, conforme reclamou o diretor do COB, na ausência de cobertura ao vivo do Jogos Panamericanos de 2023, e sem ela fica muito restrito o alcance para grande parte da população. Mas as condições tecnológicas estão facilitando a produção e difusão de conteúdos.
Do ponto de vista do papel social de uma universidade pública na comunidade em que se insere, a iniciativa contempla muitas dimensões. Mas talvez a mais significativa esteja no próprio papel pedagógico que a extensão consegue operar na dinâmica de aprendizagem. Estudantes de jornalismo tiveram acesso na noite de ontem à prática de organização de um roteiro, de um espelho de um programa que seria televisionado (transmitido) ao vivo, fora dos limites do Grande Auditório. Operar os equipamentos, entender as dinâmicas de produção, programar, prever, oferecer soluções, realizar atividades em grupo e tomar decisões jornalísticas sobre um programa, são tarefas diferenciais para a formação do grupo de estudantes que esteve envolvido.
Numa perspectiva pragmática, o empresariado poderia acusar o curso de Jornalismo de usar mão de obra de graça para realizar a tarefa. “Assim fica fácil fazer um debate, sai de graça” diriam os detratores. Na dimensão pedagógica, aprender fazendo, errando e entendendo os valores de cada decisão, de cada operação é um ganho insuperável.
No que se refere à lógica empresarial, há que se pensar na contribuição ao interesse público que também é imperativo para quem faz jornalismo. Nesse caso, parte das empresas jornalísticas deveriam ter uma preocupação maior de pautar o debate em momentos eleitoriais.
Por: Cíntia Xavier, professora do Departamento de Jornalismo e da Pós-Graduação em
Jornalismo da UEPG.