A solidariedade é uma das características que definem os brasileiros. Seja com outros países, estados ou cidades, é notável o esforço da população em ajudar com doações aos atingidos por algum crime ambiental (como Brumadinho em 2019) e desastres naturais previstos pela crise climática – como as enchentes no Rio Grande do Sul (em 2023 e 2024).
Assim como a solidariedade cresce em momentos de dificuldade, o nível de desinformação aumenta proporcionalmente. Informações erradas e descontextualizadas circulam com força nas redes sociais e são espalhadas a nível exponencial. Elas desmotivam as equipes que estão realizando os salvamentos, aqueles que esperam ser resgatados e até mesmo as os familiares de alguém nas áreas de risco.
Os jornalistas poderiam gastar toda a força e tempo para informar com qualidade e precisão e se veem tendo que despender tempo para desmentir falsas informações, contextualizar vídeos e imagens desconexos do contexto. Junto com matérias informativas sobre as enchentes no Rio Grande do Sul, os principais portais de notícia do país apresentam diversas checagens de informação e explicações sobre inverdades em alta nas redes sociais. O site do Governo do Estado do Rio Grande do Sul criou uma categoria de informativos para desmentir fake news relacionadas às enchentes – É fake. Desde o dia 05 de maio até o dia 13 de maio são mais de 20 textos alertando para desinformações espalhadas nas redes sociais. Cada um desses textos desmentem, em alguns casos, mais de uma desinformação.
Além da disseminação em massa de desinformação, muitos aproveitam da falta de checagem para aplicarem golpes pedindo doações – onde os valores são desviados para outros propósitos. Diversos sites de checagem e portais de notícias alertam para os golpes e a forma de prevenção. Enquanto isso, o cenário político é marcado pelo apelo do governo e autoridades da força de segurança pedindo atenção sobre a onda de desinformação e medidas mais severas aos responsáveis. Já a oposição ao Governo Federal aponta como irrelevante a discussão sobre desinformação e até criticaram a iniciativa da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) de investigar as redes sociais sobre as fake news no momento da tragédia.
A discussão e tomada de decisão sobre a crise climática deve ser encarada com urgência pelo Brasil. Com a mesma emergência a desinformação deve ser colocada em pauta e encarada como uma das principais dificuldades enfrentadas na atualidade na fiscalização das ações (não) realizadas pelo governo, agronegócio, indústria e demais setores envolvidos diretamente – com o intuito de diminuir os danos (atuais e futuros) que o progresso da crise climática tende a desenvolver.
A precarização do trabalho jornalístico, a falta de regulamentação das redes sociais e os baixos índices de letramento midiático pela população brasileira solidificam ainda mais as barreiras no combate à desinformação no Brasil e, consequentemente, as pautas ligadas diretamente à crise climática e ambiental. Apesar de muitos impactos da crise climática já terem chegado às casas dos brasileiros, como a falta de arroz por conta das enchentes no RS, o negacionismo climático também está presente na maioria das redes sociais.
Aline Louize Deliberali Rosso / Jornalista da TVE – UEPG e Doutora em Sociologia Política